Estou lendo A Arte de Pedir, da Amanda Palmer. O foco do livro é o mesmo da palestra que ela ofereceu no TED, e sou da opinião de que todas as pessoas da Terra deveriam ver esse vídeo ao menos uma vez por dia.
Em resumo, tanto palestra quanto livro tratam da abertura a pedir ajuda.
Pedir ajuda, como Amanda aponta no livro, é diferente de mendigar. Pedir ajuda envolve oferecer algo em troca, enquanto mendigar implica em um estado de miséria que reduz ou elimina as chances de criar valor para outra pessoa. Embora eu ainda não tenha muito clara uma posição sobre como lidar com pessoas que mendigam – dado que estão em uma condição de invisibilidade social e, frequentemente, de difícil reparação –, eu achava que já tinha resolvido minha postura sobre pessoas que pedem ajuda.
Afinal, faz todo sentido que eu acolha e apoie quem pede ajuda quando tenho um projeto do Ninho de Escritores no Unlock, plataforma de financiamento coletivo recorrente. Se eu estou pedindo, certamente entendo o lado de quem pede e estou disposto a ouvir, olhar, me envolver.
Mas é claro que a vida não seria tão simples, né?
Eu estava com meu namorado e uma amiga bebendo e rindo em um bar. Noite de terça-feira, barulho e piadas. Daí surgiu um cara perguntando se a gente gostava de mágica. Minha resposta foi imediata:
– Sim, mas não precisa fazer nada, porque não importa o que tu faça, não vamos te dar dinheiro (e blá blá blá).
O moço, com o tipo de paciência que só se constrói pedindo ajuda na rua em troca de um pouco de mágica, respondeu:
– Tudo bem, mas posso fazer a mágica mesmo assim? Se vocês não tiverem nada para contribuir, sem problemas.
Ele fez a mágica.
Eu mordi a língua e dei dinheiro.
O que ele me ofereceu lá foi valor, não só por me surpreender e encantar, mas especialmente por me mostrar que até então eu só havia entendido intelectualmente a arte de pedir. Eu estava lá, na minha mesa com pessoas queridas, interessado em nada do mundo além daquelas duas pessoas. Eu poderia estar em qualquer outro lugar, atrasado ou relaxado, parado ou caminhando, em pé ou sentado. Eu estava fechado.
Ao decidir de antemão que não daria dinheiro ao mágico, eu havia também decidido que nada do que ele fizesse seria o suficiente para me alcançar. Eu estava disposto a matar qualquer relação que ele tentasse construir. Por quê? Porque é mais seguro assim, de longe.
Chegar perto, enxergar de verdade, dar-se tempo para escutar: isso tudo é muito mais difícil.