O mapa não é o território

Eu sou apaixonado pelas palavras, são magia pura. Com um bocado de riscos no papel ou sons direto da garganta, faço chover significados na cabeça das outras pessoas e reforço aqueles que já existem na minha. Esses significados são mapas para percorrer o território da realidade.

O território da realidade é impossível de reduzir a um mapa. Se não porque complexo demais, no mínimo porque sempre cambiante. O território muda sem parar e nossos mapas não são rápidos o bastante para acompanhar. Nossos mapas são estáticos, a realidade é dinâmica.

Às vezes, penso e sinto a partir do mapa. É mais fácil, mais rápido, está mais à mão. Como quando penso o que as pessoas deveriam fazer de acordo com os papéis que ocupam na vida. Ou melhor, no mapa. Na realidade, não ocupam nada senão o espaço que estão agora e depois não mais. No mapa, são médicos, professores, irmãos, amigos, têm deveres, tenho expectativas.

As palavras podem me conectar com as pessoas, mas também pode me conectar só com seus mapas. Aí tem de tudo, menos conexão. Para se conectar de verdade, tem que largar os mapas e aceitar ficar perdido, mesmo que só por alguns instantes. É aí, nessa imensidão do não saber, que reside a nossa humanidade.