Show Your Work, de Austin Kleon

Show your work, de Austin Kleon, autor de Roube como um artista, é uma leitura rápida e alfinetante. Em menos de uma hora, li sobre a importância de compartilhar aquilo que sei, as minhas referências (será que isso não foi apenas um truque para que o trabalho dele fosse mencionado mais vezes?) e no que estou trabalhando.

Já comecei ontem mesmo, lançando no Facebook e no Twitter um aprendizado que tive a partir do texto sobre revisão:

Aprendizado do dia: receber com carinho as críticas ao meu trabalho; afinal, elas costumam ser disparadas com violência.

O que trago aqui não é um resumo, mas um apanhado de ideias que me deixaram pensativo. O livro é tão curtinho que tentar resumir pode me levar a escrever mais do que o original.

show-your-work-cover1

Austin afirma que as perguntas do Facebook (No que você está pensando?) e do Twitter (O que está acontecendo?) nos guiam para o umbigocentrismo (esse termo é meu, não dele; gosto mais dele do que de egocentrismo, mas a ideia é a mesma). No lugar destas perguntas, ele sugere que utilizemos Em que você está trabalhando? O foco de Austin é a criatividade e, portanto, o trabalho. Contudo, a pergunta dele faz muito sentido: aquilo que temos a compartilhar e criar em conjunto é, muitas vezes, fruto do nosso trabalho.

Tenho feito isso com o Ninho de Escritores, no qual mando mensagens de e-mail semanais para os assinantes da newsletter. Essas mensagens, que contêm dicas, links e desafios, têm me ajudado a estabelecer uma relação de proximidade com as pessoas que se interessam pelo meu trabalho.

Receba os e-mails do Ninho de Escritores

* indicates required


Mas não basta simplesmente compartilhar o seu trabalho. É necessário se perguntar: e daí? Em outras palavras, o que meu leitor ganha a cada texto meu? Por que ele deveria investir o seu bem mais precioso, tempo, em mim e em meu texto?

Há três coisas que costumam motivar os leitores a buscarem conteúdo em textos onlineinspiração para enfrentar os conflitos cotidianos, educação para viver melhor e entretenimento para aliviar os dias. Quando, ao compartilhar meu trabalho, me pergunto e daí?, a resposta deve cair em alguma dessas três esferas. Do contrário, é provável que eu esteja apenas falando de mim e das minhas coisas… e quem tem tempo para ficar lendo sobre o meu dia, afinal?

Outro ponto bem legal trazido pelo Austin é a atribuição. Meus ex-alunos de Metodologia Científica devem estar carecas de ouvir isso, mas é importante indicar de onde vieram as nossas ideias. É uma questão de respeito para com quem produziu o conteúdo e principalmente para com os leitores, que poderão seguir a “árvore genealógica” de cada ideia, buscando novas referências em seus autores e influências. Na internet, o melhor jeito de fazer isso é por meio dos links. A Wikipedia é um super exemplo.

Para que a atribuição seja útil ao leitor, Austin sugere que respondamos a algumas perguntas sobre aquilo que compartilhamos:

  • O que é isto? Se estamos indicando algo, convém explicar o que é e para que serve.
  • Quem fez isto? Indicar a autoria ajuda o leitor a conhecer mais trabalhos do autor em questão.
  • Quando? O contexto de criação de uma obra diz muito sobre ela e sobre as possibilidades de leitura.
  • Por que eu deveria me importar? A verdade é essa: navegamos a vida em busca de coisas que nos afetem. Por isso, é sempre útil mostrar às pessoas o motivo pelo qual deveriam se importar com algo.
  • Como você achou isso? A fonte de uma informação pode sugerir aos leitores métodos parecidos para que encontrem, eles próprios, suas referências futuras.
  • Onde eu posso achar mais coisas parecidas? Se algo nos encanta, o melhor que podemos fazer é buscar encantamentos semelhantes para nos aprofundar neles.

atribuição show your work

Ainda a respeito da atribuição de autoria, Austin propõe uma ideia que considero fundamental: se você quer ser interessante, você deve ser interessado. Eu já havia pensado sobre isso em algumas ocasiões, mas nunca com tanta clareza. Pessoas apaixonantes são aquelas que manifestam suas paixões, que se encantam tanto por algo que se movimentam para tornarem esse algo parte de suas vidas. Não é por nada que damos mais atenção a quem se manifesta, a quem se veste de forma original, a quem cria. É o interesse que torna essas pessoas interessantes.

Falando em interesse, Austin traz uma citação de Richard Ford:

Quando as pessoas percebem que estão sendo escutadas, elas contam coisas.

Tenho considerado muito a citação de Goethe em que ele diz “amar é prestar atenção”. Vivemos em tempos corridos, por isso o ato de parar, olhar a fundo para alguém e escutar suas palavras é uma verdadeira prova de amor e cuidado. Muitas vezes, o que nos falta é uma boa conversa para colocar as ideias em ordem. Ao oferecer esse tempo aos outros, começamos a estabelecer relações de confiança.

Austin trata de mais duas ideias correlatas: não abandone seu showaprenda a levar socos. O segredo para o sucesso é a perseverança, é estar no jogo por tempo suficiente para ser reconhecido. No caminho desse reconhecimento, encontraremos críticas, algumas delas bastante doloridas. O melhor jeito de aprender a apanhar é apanhando, porque nos ajuda a criar resistência e desviar dos golpes mal encaminhados. Mas sempre alguns nos acertarão e precisaremos estar preparados. Do contrário, corremos o risco de cometer o erro fundamental: desistir.

Não desista.

Para finalizar, repito uma ideia importantíssima: compartilhe seu trabalho todos os dias. Isso ajuda a criar um relacionamento com as pessoas baseado no que tu está fazendo, em vez de em o que tu está comendo, onde tu está passeando ou qual é a piada da vez. A ação é o motor mais poderoso para qualquer relacionamento, mais do que palavras e promessas.

Então te pergunto: em que tu está trabalhando agora? 🙂