Use sua consciência contra as críticas

O medo de críticas está entre as paralisias mais comuns que encontro nos escritores que treino. Eu sei muito bem o peso que uma crítica bem colocada pode ter sobre um ser humano. Descobri isso na faculdade, quando eu ainda alimentava o ideal de ser um escritor famoso.

Em um semestre conturbado durante o qual ficamos semanas sem aula de comunicação escrita, chegou uma professora famosa por seus conflitos com turmas anteriores. Ela pediu-nos um texto perguntando o que havíamos aprendido até então. Eu estava indignado com aquela situação toda – que pouco ou nada tinha a ver com ela – e derramei ácido em forma de ironia por todo o meu texto. Entreguei e assim foi.

A professora pediu um conto curto, escrevi um texto fofo (e narrativamente frágil, como hoje percebo), entreguei. Quando chegou o momento de devolver os textos, reconhecendo que eu era o autor do primeiro texto ácido, ela me disse: “então você é o Tales? Eu esperava mais de você”.

Pausa para o comentário sobre comunicação não-violenta: zero violência nesse comentário aí. Ela estava falando das próprias expectativas, não do que eu era ou deixava de ser. Sim, ela estava falando do que achava que eu deveria ser, mas isso tudo pertencia a ela.

Naquele momento, eu me identifiquei com a crítica. Eu era a crítica. Eu não era o que a professora esperava, eu não era o suficiente, eu não era bom, eu não era um escritor. Dali em diante, passei anos escrevendo de forma burocrática e sem tesão.

Se, por outro lado, eu tivesse tomado consciência de que aquela era uma opinião de outra pessoa – expressada num contexto de autoridade dela e expectativa minha por reconhecimento e apreço –, poderia reconhecer também os limites do que me foi dito. Era apenas um olhar de outra pessoa, não uma declaração fundamental sobre quem eu era.

Quando alguém critica meu texto, a crítica não é sobre mim. Mesmo quando a outra pessoa tenta fazer com que a crítica seja sobre mim (“você é um péssimo escritor!”), ainda assim não é sobre mim. É sobre como a pessoa enxerga o mundo. Se eu tenho consciência de até onde eu estou no mundo, fica mais fácil de se desvencilhar das críticas porque consigo reconhecer o que elas de fato significam.

E aí escrevo melhor.