Depois de um dia cheio de flertes, meu aluno beijou um rapaz. Encantado, perguntou se o dito moço era gay ou bi. A resposta foi “sou hetero”.
A comoção na sala de aula foi imediata. Como o rapaz poderia ser heterossexual se havia acabado de beijar meu aluno? Que tipo de homem heterossexual toparia beijar um outro homem?
Essas perguntas só existem porque nossa linguagem é limitadora. Embora muito útil para nos ajudar a compreender como podemos existir no mundo, as palavras são apenas um mapa, nunca o território. Hétero, gay, bi, esses rótulos dizem de comportamentos que são repetidos o bastante a ponto de serem cristalizados e reconhecidos.
Se o rapaz se diz heterossexual e acabou de beijar um outro homem, o que isso significa?
Significa apenas isso: que uma pessoa beijou outra.
O que está em conflito é o rótulo, e então podemos recusá-lo (“ah, não era heterossexual coisa nenhuma!”) ou simplesmente entender que pessoas são contraditórias e muito mais complexas do que jamais seremos capazes de condensar em palavras. E está tudo bem assim.
Melhor seria, aliás, nem precisar se definir como gay, hetero, bi. Já pensou que legal?