Um tipo seguro de vulnerabilidade

Eu me exponho habitualmente na internet. Falo da minha vida, dos meus medos e do que estou buscando. Dessa perspectiva, eu sei me vulnerabilizar. Percebi, entretanto, que eu venho praticando um tipo seguro de vulnerabilidade.

Estou em campanha de financiamento coletivo para custear um curso que é muito importante pra mim, mas que não tenho condições de pagar. Fiz textos sobre isso, publiquei nos meus perfis públicos, mandei mensagem nos grupos dos quais eu participo. Em todos esses movimentos, contei do quanto esse curso me importa, da demanda por grana etc.

Numa campanha de financiamento coletivo, uma forma de predizer o sucesso da arrecadação é alcançar 25% do valor total em 10% do tempo. Eu tinha certeza que isso aconteceria. Com 13% da campanha já percorrido, arrecadei 15%. Ciente disso, fui atrás de uma ex-cliente que se tornou amiga, pois ela já viveu essa experiência ao financiar coletivamente o lançamento do livro que a ajudei a escrever. Queria ajuda pra entender como cuidar melhor desse processo.

Uma das perguntas que ela me fez foi: quantos contatos você tem no Facebook? Mesmo antes de verificar, um outro tipo de resposta me veio à mente. Eu estava jogando seguro. Abrir a vida na internet é bem mais fácil quando as pessoas precisam fazer esforço para me dizer não. Eu lancei os convites, mas não estou com as pessoas na hora em que elas decidem não me apoiar.

De alguma forma, eu continuo evitando conversas difíceis. Conversas em que as pessoas podem dizer não para algo que me importa.

Eu habitualmente fujo de conversas difíceis. Quando mudei para São Paulo, passei três dias tomando banho gelado no meu quarto e até escrevi um texto sobre isso. O problema só se resolveu quando o dono do apartamento leu o meu texto e veio falar comigo. 

Esse tem sido o meu modo operante nos últimos trinta anos de vida. Eu até abro algumas portas, preparo as situações, mas não ponho na mesa o que está me incomodando, o que estou precisando. Neste momento, eu preciso de dinheiro pra fazer um curso foda que vai mudar a minha vida, mas sigo esperando que uma mensagem solta assim para o universo seja o suficiente para que centenas de pessoas me apoiem.

Esse é um tipo seguro de vulnerabilidade.

De agora até o final da campanha de financiamento coletivo – se possível, até o final da vida – quero experimentar outra modalidade de relação com as pessoas. Pedir o que eu preciso, acolher a possibilidade de receber um não, celebrar o sim que vier. Só de escrever isso já me dá um frio na barriga, mas vamos lá.