O vizinho do prédio ao lado está cortando as unhas na janela. Ouvi os pecs pecs pecs. Ele corta com uma velocidade e naturalidade que, na pior das hipóteses, sugerem que o mundo é mais que pequenos descontentamentos.
Agora, enquanto escrevo, o vizinho lixa suas unhas. É uma manhã de quarta-feira e ele está se lixando.
Há poesia no mundo, logo até onde alcançam os olhos, os ouvidos, as narinas. Quem sabe além, até onde se derrama a imaginação.
Acabei de ver outra vizinha, corpo metade pra fora da janela, passando um pano no vidro. E se ela caísse? Ou voasse? O prédio ao lado é um sem-fim de carícias para a imaginação. Como a vida.