Lembro que quando conheci a comunicação não-violenta (CNV), eu enfrentava seus defensores com uma pergunta desdenhosa: “e se colocar o Bolsonaro aqui na minha frente, eu tenho que escutar e entender de onde ele vem?”. Hoje, anos depois (com essa pessoa sendo uma questão muito mais real e presente), percebi que eu não estava entendendo muito bem essa tal de CNV.
O limite da comunicação não-violenta é a intenção de criar uma conexão de maior qualidade com as pessoas. Se eu quero isso, o caminho é a escuta atenta e livre de julgamentos. Se eu não quero, a CNV não é a melhor ferramenta – e existem várias ferramentas disponíveis no mundo para alcançarmos diferentes coisas.
Na base da CNV está a busca por uma experiência de vida mais maravilhosa para todas as pessoas. O caminho para isso é a conexão. A CNV é uma estratégia para conectar as pessoas. Se o que eu quero é derrubar um ditador, por exemplo, a CNV não será a ferramenta mais eficiente. E está tudo bem, porque essa não é a sua proposta.
Além disso, a comunicação não-violenta é sobre recuperar o poder e a responsabilidade sobre nossas escolhas. Ou seja, não tem que nada. Não tem que falar manso, não tem que querer falar com o agressor. Não tem que nada.
Porém, a CNV é também um processo de conscientização disfarçado de ferramenta de comunicação (vou usar essa definição pra sempre, obrigado, Kit Miller!). Conforme vou descobrindo as possibilidades de um mundo mais conectado, vou também entendendo que não há espaço para a imagem de inimigos.
E aí fica claro mais uma vez que os limites da comunicação não-violenta são, na verdade, os meus próprios limites.