Ontem fui a um templo Hare Krishna.
Sim, eu vou aproveitar ao máximo o efeito dessa frase. É o tipo de frase que, se dita em uma mesa de bar, faz a galera parar e olhar ansiosa pelo que virá depois. Mais que isso, só se eu falasse que fui a um clube de sexo.
Um amigo me chamou para conhecer o templo Hare Krishna e eu aceitei. Não sabia muito bem o que esperar, talvez pessoas com flores na cabeça e roupas bonitas e folgadas, então fui com o máximo de cabeça aberta que consegui.
Antes de chegar lá, pesquisei sobre Hare Krishna na Wikipedia e fiquei desgostoso com algumas das limitações que eles sugerem para os seus praticantes, como não praticar sexo ilícito (pelo que entendi, “sexo ilícito” é aquele fora do casamento). Assim como no budismo, o foco do Hare Krishna não está no corpo material, mas sim em transcendê-lo, o que implica evitar as tentações físicas, que nos distrairiam dos nossos propósitos espirituais. Outras limitações são: não comer carne (princípio relacionado à não violência), não praticar jogos de azar (pois eles estimulam a ira e a inveja) e não usar intoxicantes (pois a vida já está cheia de dúvidas e dificuldades para a mente se manter focada).
Por aqui eu já pensei: a prática espiritual do Hare Krishna não é para mim. Eu transo muito (embora agora eu me considere casado, então o sexo não é “ilícito”), como carne, bebo e jogo para me divertir. Ainda assim, por que não ir lá e conhecer alguns rituais de uma religião diferente?
O lugar, chamado Centro Vrinda, é uma casa bonita e toda enfeitada. Colorida. As pessoas cheias de sorrisos e cumprimentos simpáticos, um lugar para se sentir bem. Lembrei do Centro de Estudos Budistas Bodisatva ao qual fui há uns meses: ambos são casas adaptadas para o convívio coletivo, mas o Centro Vrinda é mais preenchido de elementos indianos.
Entramos e fomos para uma sala em que começariam os cantos. Sentamos em meia lua, um rapaz de cabelos raspados, óculos e roupas brancas batucando à frente de todos. Cantamos uma música igual aos cânticos que rolam no fundo da música Mantra, do Nando Reis: “hare krishna hare krishna krishna krishna hare hare hare rama hare rama rama rama hare hare”. No início foi difícil, mas o moço ia guiando e todos cantavam. Depois de uma meia hora, cada um foi cantando uma vez sozinho, depois o grupo, depois a próxima pessoa, até que todos tivessem cantado.
Como costuma acontecer quando me deparo com o que não conheço, comecei achando uma baita bobagem, mas depois foi se tornando legal (isso também é comum, então nem me baseio mais nessas primeiras impressões… elas definitivamente não são as que ficam). Para somar, havia uma gata que me viu, deitou no meu colo e dormiu. Mais lugar de paz que isso não tem, certo?
Houve um momento em que o moço que conduzia a coisa toda começou a tocar um instrumento esquisito que fazia uma música daquelas que mexem lá fundo no coração. Achei um efeito poderoso e decidi que algum dia no futuro estudarei mais sobre melodias e seus efeitos emocionais.
Depois que saí de lá, fiquei imaginando quem será que inventou essa coisa toda de Krishna, deuses azuis e canções de louvor. Sim, tudo bem, é uma religião, existe há milênios e tal… Mas lá nos primeiros dias, de onde veio? Tenho certa fascinação por imaginar como foram os primeiros sonhadores.
Meu amigo perguntou o que achei. Fui sincero: não é o meu lugar, mas fiquei feliz em conhecer aquele espaço. É sempre bacana saber dos lugares que acolhem quem a gente gosta, não é mesmo?