Como a CNV olha para a vida

Desde que comecei a estudar e praticar comunicação não-violenta, desconstruí diversas ideias equivocadas sobre o que a CNV é ou não é. Boa parte deles nascem do conceito de não-violência, algo que é difícil de imaginar, especialmente quando vivemos mergulhados em relações que prezam a disputa entre certo e errado, verdadeiro e falso, bom e ruim, deveria e não deveria.

Em meus estudos, cheguei à conclusão (sempre parcial e não definitiva) de que a comunicação não-violenta tem a ver com honestidade, intenção, empatia, responsabilidade e conexão (falo sobre isso neste vídeo). A CNV é, mais do que uma ferramenta de comunicação, um processo de conscientização.

Mas conscientização do quê?

Para responder a essa pergunta, preciso reapresentar a crença basilar da comunicação não-violenta. Para a CNV, toda ação, crença ou julgamento é uma tentativa de atender às nossas necessidades. Observe que não estou dizendo que isso é verdade. Esse é um modo de olhar a vida que os praticantes de comunicação não-violenta escolhem colocar em operação.

Quando vejo o mundo através da lente das necessidades, consigo perceber a minha responsabilidade sobre o que faço, penso e sinto. Consigo, também, enxergar que outras pessoas também estão tentando a mesma coisa – mesmo que às vezes suas escolhas falhem em cuidar das suas próprias necessidades ou de outras pessoas.

Toda ação, crença ou julgamento pode ser traduzida em necessidades. É esse exercício que me ajuda a me conectar com o que pessoas estão tentando alcançar com suas escolhas. Todos os seres humanos têm as mesmas necessidades (sem ordem específica nem pretensão de ser uma lista exaustiva): aprendizado, improviso, alegria, inspiração, criatividade, iniciativa, respeito, amor, humor, expressão espiritual, interdependência, participação, justiça, sentido, paz, compaixão, liberdade, integridade, escolha, contribuição, apreciação, celebração, luto, beleza, autenticidade, serenidade, integração, harmonia, espaço, facilidade, aceitação, inclusão, empatia, presença, apoio, abrigo, saúde, água, alimento, segurança física, sustentabilidade, proteção, descanso, movimento físico, toque, expressão sexual, mutualidade, diversidade, confiança, igualdade, consideração, comunidade, pertencimento, nutrição, amabilidade, expressão, bem-estar, compreensão, clareza, segurança, estabilidade, ordem, autonomia, independência, conexão.

Essa base comum é o que me permite criar conexão tanto comigo mesmo quanto com outras pessoas. Se eu sei que nós dois queremos cuidar das nossas necessidades de comunidade e proteção, por exemplo, posso ir além das estratégias (muitas vezes opostas) que usualmente optamos para encontrar algo que cuide melhor de nós dois. E assim, nesse exercício, podemos descobrir modos de viver melhor.