Quando olho meu quarto e ele está desorganizado, com roupas por cima dos móveis, livros fora de lugar, armários lotados e sujeira pelo chão, sei que isso é um reflexo das minhas escolhas de vida atuais. Assim como se nada pode sair do lugar, também sei que isso diz de como estou gerenciando meus dias e quanto espaço estou abrindo para o imprevisto.
Durante a faculdade, eu tinha um projeto secreto: queria ser um psicólogo no quarto das pessoas. A pessoa me chamaria para uma sessão e lá eu iria até seu quarto, sem aviso prévio, para ver como as coisas se ajeitam no dia a dia dentro do espaço que cada um.
Hoje me interessa mais estar atento a mim mesmo, porque às vezes é difícil prestar atenção em outros sinais, mas o quarto está ali o tempo inteiro, escancarando na minha frente toda a potência do que venho escolhendo.
Quando adolescente, havia muito pouco de mim no meu quarto. Ele era construído basicamente pela influência direta dos meus pais. Exatamente como a minha vida.
Quando morei em Goiânia, sozinho pela primeira vez, meu primeiro quarto (em uma casa compartilhada) era um caos, nada tinha lugar próprio. Exatamente como eu me sentia na casa.
Quando morei sozinho, com um apartamento inteiro só pra mim, tinha uma casa organizada, mas sem muita personalidade. Eu experimentava bastante e até mexia as coisas de lugar, mas nada tinha realmente a minha cara. Exatamente como eu levava a minha vida.
O quarto é apenas uma metáfora. Podiam ser as roupas. Dentro do Ninho de Escritores, são os textos que uso como metáforas para apoiar as pessoas a ganharem consciência de suas próprias escolhas de vida. Poderia ser o trabalho, o modo como joga futebol, pode ser qualquer coisa.
O que importa é a metáfora.
E, ainda na metáfora, convido: arrume o quarto. Ou ele já diz de você o que você gostaria que alguém enxergasse sobre você?